segunda-feira, 6 de maio de 2013

Nós Estamos Perdidos!

Olá Meus Amigos Leitores,
Estive conversando com um grupo de familiares de dependentes químicos e percebi o quanto eles se sentem perdidos.
Não sabem como lidar com o problema, como agir com o dependente e até mesmo o que fazer ou mesmo o que falar.
As pessoas ainda hoje continuam olhando o dependente como marginal, uma pessoa amoral e basicamente tem pouco conhecimento sobre o assunto.
Resolvi então falar sobre isto. A dependência química é uma doença, é reconhecida assim pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e possui até um CID (Código Internacional de Doenças) específico.
A doença afeta o dependente em quatro áreas de sua vida: biológica, psicológica, espiritual e social.
Na área biológica a doença atinge o dependente no que chamamos de compulsão, isto é, usar e usar cada vez mais drogas, isso se dá também porque o dependente cria no desenrolar do uso contínuo um aumento de tolerância física e com isso a quantidade de uso aumenta.
Outro ponto biológico a ser observado é o corpo passar a entender a droga principalmente o álcool como alimento, outra informação muito importante é que o cérebro passa a se acostumar a funcionar sobre a influência das drogas causando assim influência no comportamento do dependente como síndromes de abstinência e distorções emocionais como nervosismo, raiva sem motivo, falta de apetite, insônias, inquietudes e muitos outros sinais.
Na parte psicológica o dependente passa a sofrer com a obsessão ao uso, basicamente passa a pensar em usar drogas o tempo todo, com o aumento da tolerância relato acima o dependente passa a praticamente usar drogas para quase tudo o que vai fazer como comer, dormir, sair, escutar música, namorar e por ai vai, e com isso ele inclui a droga em todas as suas atividades cotidianas, é assim como se fosse uma roupa ou um objeto indispensável.
Outro ponto psicológico a ser observado é que esta obsessão impede o dependente de fazer escolhas mais saudáveis para si e também se basear sentimentalmente para essas escolhas, como falei em no post “O Amor faz a Diferença”.
Espiritualmente o dependente abandona padrões morais e motivacionais trocando estes por motivações egoístas e negativas.
Socialmente o dependente abandona ambientes sociais, principalmente os familiares para fazer consumo de drogas, isto se dá por várias razões, uma delas é que se a família do dependente já tem conhecimento do problema à motivação é se afastar das pessoas que não aprovam seu comportamento e se aproximar das pessoas de uso, outros motivos são mesmo para usar sem interferências recusando assim frequentar festas familiares, viagens e eventos que o impeça ou cause algum tipo de perigo de descoberta do seu uso.
Socialmente o dependente tem um status a defender junto aos outros dependentes que ele conhece e essas pessoas basicamente se tornam sua “família”.
Para você familiar ou amigo de dependentes químicos, indico lerem o meu post “Dependência Como Identificar” e buscar ajuda em um grupo de auxilio como NarAnon, AlAnon ou Amor Exigente lá você vai encontrar pessoas que passam pelos mesmos problemas que você.
Não desista de lutar para mudar esta situação mas seja inteligente não entrando em confronto com o dependente sem antes se preparar aprendendo como a doença funciona e com lidar com isso.
Fique atento ao ente querido, procure dar abertura para que ele possa se aproximar e buscar ajuda em você.
Hoje falei apenas o básico sobre a as características da doença mais vou falar mais sobre pontos importantes no futuro.
Olhe também no blog sugestões de literatura para lhe auxiliar no estudo da doença e de um programa de recuperação.
Deixem seus comentários sobre a postagem, eles são muito importantes para o blog.
Obrigado pela visita. Boa Semana e até o próximo post.

domingo, 28 de abril de 2013

Espiritualidade

Olá Amigos Leitores,
Falarei hoje sobre a espiritualidade tema que gosto muito e ainda não havia falado de forma ampla e direta aqui.
Acredito hoje após esses anos acompanhando de perto a recuperação e tratamento de muitos dependentes e familiares ser a pratica de desenvolvimento espiritual a fonte mais apropriada para ajudar na solução dos nossos sentimentos, sofrimentos e conflitos sejam eles de qualquer razão, modo, ação ou mesmo intensidade.
A espiritualidade não é uma religião onde devemos nos guiar ou seguir regras, conceitos, crenças, dogmas ou princípios estabelecidos por outros e sim baseada numa escolha pessoal em mudar nossa postura de compulsão e obsessão por ações carnais, materialistas e egoístas por uma estabilidade ou equilíbrio em nossas ações, sentimentos e pensamentos. Entenda que não estou recriminando qualquer prática religiosa ou religião, entendo que cada uma delas tem seu valor terapêutico e compartilham do desejo de melhoria como seres humanos. O que quero explorar aqui é algo mais parecido com minha postagem “Despertar da Consciência”.
Sabemos que todo ser humano possui uma trindade constituída de um corpo, uma alma e um espírito e esse último é o maior dos bens que possuímos da parte de Deus, pois é o que nos torna imagem e semelhança dEle.
A eternidade é um dos atributos de Deus que está presente em nosso espírito e nos torna semelhante a Ele e o nosso espírito em si nos torna sua imagem, pois Deus é espírito, isso é um privilégio dEle para nós seres humanos.
Quando escolhemos ser guiados pelo espírito, escolhemos ser guiado por um poder maior a nós mesmos, e esse poder superior ou maior é o único que tem a certeza do quê realmente precisamos e sabe como fazer o melhor para nós. Toda escolha do poder superior é perfeita, mas o poder superior não determina e pronto, tem que acontecer. Deus nos deu o direito de escolher se aceitamos ou não o que ele quer é o Livre Arbítrio, ou seja, livre escolha de como vamos conduzir nossas vidas.
Um despertar espiritual não significa um encontro maravilhoso, especial ou mesmo significativo com Deus e sim entender que temos acesso a Ele por meio do nosso espírito. Se dermos lugar a sua ação, ouvi-lo e buscar entender o que quer de nós isso é um despertar espiritual.
Para atingirmos esse despertar espiritual primeiro é preciso acreditar que existe um poder maior que nós mesmos e que este poder esteve e está a nossa disposição desde sempre. Quando passamos a buscar por esse poder superior podemos facilmente encontrá-lo em Deus e no que nos faz semelhante a Ele, nosso espírito.
O Programa de recuperação de Narcóticos Anônimos na Literatura Isto Resulta, no Segundo Passo deixa claro que a busca deste poder superior é a coisa mais importante que fará após parar de usar, pois ele trará sanidade, ação criativa e conduzirá a recuperação a partir dai.
O nosso espírito é a fonte principal de nossas vidas, é eterno, e detentor de todo poder do qual precisamos para transformarmos nossas vidas por completo, pois é o nosso verdadeiro Ser. O espírito humano possui toda essência de Deus com isto suas verdades, conhecimento da nossa missão como realizá-la e de como conduzir nossa vida e ações. Ao acessarmos esse poder temos total condição de mudar nossa postura de vida, passando a sermos assertivos, equilibrados e acima de tudo sentirmos paz, alegria e amor em nossas vidas.
Não precisamos ter uma experiência sobrenatural para termos um despertar espiritual, muitas pessoas às têm nas religiões e passam a exercitar sua fé em cima dessa experiência, mas isso não faz diferença e sim a sua fé. A fé é extremamente necessária neste processo porque é acreditar naquilo que não vejo mais sei que existe ou que vai acontecer, e se acredito nesse poder superior me entrego e se me entrego já não sou dirigido por minhas vontades, pensamentos e conceitos e sim dirigido por esse poder superior que é perfeito. Esse poder é que nos convence de nossos erros e acertos, do quê é verdade e do quê não é, do quê é bom e o que é mal.
Quanto mais nos entregamos à espiritualidade mais forte ficamos, pois nossa mente através do ego tenta o tempo todo nos convencer de que ele é a parte forte em você e que o seu espírito é sua fraqueza quando na verdade é ao contrário, o apostolo Paulo teve a revelação dessa realidade e nos transmitiu escrevendo: - Quando penso que sou fraco é que sou forte. Seu espírito é o que você tem de mais forte, é Deus em você.
Quando é que Deus pode ser mais fraco que qualquer coisa? Sabemos que nunca. Saiba que o importante não é onde você busque ou creia encontrar essa força o importante é encontrá-la e praticá-la.
Estar limpo já é um grande passo para a transformação, mas não é o bastante, as coisas só mudam quando mudamos.
Quando você inicia e desenvolve a prática da espiritualidade você está dando qualidade à recuperação e com isso praticar com maior sucesso os passos de 2 a 12, que são completamente espirituais. Uma boa qualidade espiritual somente é atingida com a prática desses princípios básicos: boa vontade, honestidade e mente aberta. Sem espiritualidade e esses princípios não há recuperação. Quanto mais praticamos esses princípios mais os temos na recuperação e em nossas vidas.
Posso afirmar com certeza que todos que buscaram e atingiram este despertar espiritual e praticaram esses princípios tiveram suas vidas transformadas e passaram a buscar a verdade de sua existência, seus objetivos, outras realidades, caminhos de realizações, e consequentemente atingiram a tão sonhada qualidade de vida que tanto queremos adquirir.
Tudo está aí dentro de você é só procurar bem lá no fundo que você vai achar. Acredite você pode e vai conseguir. Feche seus olhos por um momento e apenas preste atenção em sua respiração, não se trata de se concentrar em você, mas sim de sentir a sua vida pulsando dentro de você, liberte-se do medo e procure não se importar com outros, não deixe sua mente te dominar e mentir para você com ideias falsas e pensamentos insanos, seu ego precisa dela e do seus sofrimentos, medos e arrogância para sobreviver e comandar sua vida como até agora vinha fazendo. Faça a diferença tenha um encontro com seu verdadeiro Ser e quando o encontrar liberte-o, sinta-o, abrace-o, ame-o e se guie por ele porque ele é Deus na sua vida. Nele não há problemas, sofrimentos, medos, conflitos, dor, mas sim uma paz e uma certeza de sua existência, essa é a famosa serenidade de que tantos falamos e buscamos atingir tanto na vida quanto na recuperação.
A todos desejo este encontro consigo mesmo, uma ótima semana e até o próximo post.
Deixe seu comentário e compartilhe o blog.

sábado, 20 de abril de 2013

O Amor Faz Diferença

Olá Amigos Leitores,
Hoje quero relatar um fato que presenciei esta semana e acho muito importante compartilhar com vocês.
Durante a despedida de um paciente mais uma vez pude me surpreender ao presenciar o poder do amor em ação, o poder de fazer com que as pessoas se emocionem com ele, que percebam mesmo que por um momento que ele existe é real e o quanto queremos vivenciá-lo. Todos nos queremos nos sentir amado, isto traz uma energia muito positiva sobre nós e para a nossa vida, o amor eleva a estima e o espírito, traz alegria, gera motivação, confiança, companheirismo, compreensão, perdão, tem poder de cura entre muitas outras coisas e em especial o amor produz respeito por si mesmo, pelo outro e como diria Renato Russo “... sem amor eu nada seria...”.
Ver as pessoas chorando emocionadas, principalmente quando uma grande partes delas estavam a pouco tempo atrás vivendo o sofrimento do mundo da dependência química e/ou alcoolismo é simplesmente fantástico, mágico e gratificante, tudo isto vindo de uma frase simples, direta, com poder de paralisar nossa fala e nos levar de encontro ao amor através do compartilhar inocente e verdadeiro dela, uma criança de 3 anos que somente soltou com muito amor e paixão: “Papai hoje vou levar você embora comigo”, impagável este momento. Consegue imaginar?.
O que falar do amor?
Ele é o sentimento mais nobre que o ser humano pode sentir. É aquele sentimento gostoso por tudo aquilo que gostamos e estamos dispostos a tudo para preservar. 
Sentimos amor por nossos pais, nosso(s) filho(s), por nossa cara metade, por nossos familiares, pelos nossos amigos e até mesmo para com nosso(s) animal (ais) de estimação e por ai vai.
É o amor dos pais, familiares, amigos, namorado (a), esposa (o) pelo dependente químico, que rejeita suas ações destrutivas, pois este amor sempre zela pela vida, o que insanamente o dependente pensa estar fazendo defendendo a liberdade de escolha de viver sua vida do modo que quiser. Esse amor cuidadoso inclusive é o tema central do livro “Quem Ama Cuida” do renomado psiquiatra e escritor Içami Tiba.
Provavelmente você já ouviu ou disse a seguinte frase ou alguma coisa do tipo: “para você me provar que me ama você tem que parar de usar e/ou beber” ou “se você me ama de verdade você vai parar por mim”. Você disse ou ouviu? Sabia. Qual foi o retorno? Já sei a resposta, teve uma grande frustração por essa prova não ter sido dada não é? Não fique triste e nem duvide do amor do outro, pois esta expectativa foi criada apenas por você de que o amor seria motivo suficiente para ele parar ou mudar, mas sinto em dizer que esta prova é praticamente impossível, às vezes até acontece, mas é raro de ser dada pelo dependente e/ou alcoolista, principalmente se ele estiver influenciado pela obsessão e compulsão no uso, neste momento o uso é prioridade máxima para ele, está acima de tudo, chego a ser mais radical ainda afirmando que a droga e/ou álcool tornou-se o maior amor do dependente e/ou alcoolista.
Tanto a 3ª tradição de A.A. quanto a de N.A. afirmam que um dependente químico e/ou alcoolista que não queira parar de usar e/ou beber, não vai parar. Ele tem que querer por si mesmo.
Mas como alguém pode amar alguém sem se amar primeiro?
Como antes mencionei o dependente acredita insanamente manipulado pelo egocentrismo que está se amando por estar fazendo o que pensa ser melhor para ele, isto é, beber e usar drogas e dar prioridade máxima as suas vontades. Para melhor ilustrar isto a comoção acima relatada dá uma dimensão de como este sentimento é abafado pelo consumo de álcool e/ou drogas do dependente, mas permanece nele lá dentro, escondido e encolhido em algum canto, mas ele está lá só esperando.
Este “abafamento” se dá pelo auto grau de egocentrismo vivido pelo dependente e é ele que causa a ausência deste sentimento tão poderoso na hora da tomada de decisão, não é que o dependente e/ou alcoolista não ame o que acontece é que este egocentrismo o impede de agir pelo amor, precisa desesperadamente suprir apenas sua vontade doa a quem doer independentemente das consequências de suas decisões.
O maravilhoso disto tudo é ver este sentimento ressurgindo no dependente e/ou alcoolista quando este faz uma interrupção do uso contínuo, quando ele experimenta uma abstinência prolongada, iniciando assim seu processo de recuperação, nele o dependente começa a melhorar sua estima pessoal, consequentemente ao poucos passa a se valorizar, ao poucos volta a se amar e consequentemente o sentimento de amor por aqueles que são importantes em sua vida volta a ter poder de ação.
Familiares e amigos continuem amando o dependente e acreditem que uma hora o resultado virá mais principalmente amem a si mesmo, sendo assertivos consigo e com os outros.
Dependente não desista, permaneça na luta, recupere sua estima e se ame, pois quem ama vive melhor, e viver melhor é qualidade de vida.
Por favor deixem seus comentários.
Excelente semana a todos, com muito amor e até o próximo post.

domingo, 14 de abril de 2013

O Medo

Olá amigos leitores,
Todos nós sentimos medo de algo não é?
Vivemos sobre a influência do medo quase que todo o tempo. O medo se apresenta de formas diferentes a cada momento ou situação da vida e basicamente se definem em: paralisante, destrutivo, irracional e instintivo e vou falar um pouco de cada um deles no decorrer da postagem.
Todos nós sofremos a influência do medo de forma parecida, os medos da humanidade são conhecidos e estudados há tempos e basicamente são: o medo da morte, da solidão, do desconhecido, de mudanças, da rejeição, do fracasso, do abandono, de ficar doente, da falta de dinheiro, da violência, de perdas como: um amor, uma pessoa querida, de amizades, um relacionamento, um emprego, perda da liberdade e outros medos e até aqueles medos ditos “bobos” irracionais, tipo quando entra uma borboleta voando pela janela e vêm na sua direção e você fica com medo achando-se em perigo por isso, ou algum tipo de medo sem motivação aparente.
Estes medos irracionais são muitos, mas não tem tanta influência no ser humano eles são quase que iguais ao medo instintivo mas com uma diferença eles não tem motivação aparente alguma para serem vividos, basicamente são ilusórios.
Já no caso do dependente químico e/ou alcoolista o medo não é irracional ele é extremamente destrutivo, pois, ele constantemente está sendo influenciado por ele, tem medo da vida, da responsabilidade, da solidão, do abandono, do passado, do futuro, do fracasso, entre outros medos, mas tem um em especial que o impede de buscar uma mudança de vida, o medo de abandonar as drogas e/ou o álcool. Porque isso acontece?
Acontece porque o dependente tem um relacionamento muito íntimo e intenso com a droga e/ou álcool e basicamente sua vida está voltada para isso, e ele tem medo de perder tudo àquilo que conquistou nesta vida. O medo de ser abandonado pelos amigos reside ai assim como o medo de perder sua identidade que foi construída principalmente nesta vivência, de bar em bar, droga em droga, balada em balada, loucura em loucura. Ele possui uma identidade muito bem definida neste círculo.
Existem outros medos que também influenciam sua vida, o medo da responsabilidade é um deles, por isso é comum se tornarem excelentes mentirosos, justificadores e transferidores, pois estas são formas eficientes de não se assumir responsabilidade, mentem sobre os erros, justificam os erros e transferem para os outros responsabilidades e culpas.
Os familiares e amigos também sentem medo, que também pode ser destrutivo caso seja o pior dos medos: o medo paralisador.
O medo paralisador é aquele como o próprio nome diz, paralisa a pessoa a deixa sem ação.
Muitos erros são cometidos no medo, por exemplo, não dizer o que se pensa, medo de perguntar, medo de buscar respostas, medo de investigar indícios, medo de perder amizades, medo de tomar atitude mais dura e ser rejeitado, medo de violência e por aí vai.
O Medo da morte que talvez seja o maior dos medos do ser humano não é grande o suficiente para o dependente mudar, porque ele se mata a cada uso e/ou gole e não se importa com isso, na verdade mesmo que tenha uma experiência de quase morte a maioria, ou melhor, quase a totalidade deles volta a usar e/ou beber não muito tempo depois disto.
Existe também o medo respeitador que é aquele que limita e que o ser humano possui por instinto, este medo preza pela vida, ele nos mantem longe de tudo o que pode ser destrutivo ou perigoso.
Familiares e amigos, não tenham medo de discutir o assunto, de tomar posição contrária ou mesmo ações mais duras se for necessário, se o dependente perceber que pode te controlar através do medo vai ficar tudo mais difícil, principalmente para você(s) a(s) vitima(s), não tenham medo de lutar pela vida desta pessoa custe o que custar.
Dependentes não tenham medo de expor suas ideias, fraquezas, dificuldades, de falar a verdade, buscar ajuda se for preciso, essa é a melhor forma de resolver problemas. Principalmente não tenham medo de abandonar as drogas e/ou o álcool, amigos, ou mesmo esta vida de sofrimento.
Amigos dependentes em recuperação, não tenham medo, pensem nos seus companheiros, pessoas que pararam de usar e encontraram uma nova maneira de viver, e siga este caminho sempre em frente, e não volte para trás, encare este “voltar para trás” com uma ponte que não existe mais, que explodiu e se voltar cairá no precipício novamente e pode não conseguir mais voltar.
Á todos, não tenham medo de lutar pelo que acreditam ser correto, para combater o medo paralisante e destrutivo o segredo é coragem, principalmente aquela que nos fala na oração da serenidade: “Coragem para modificar as coisas que eu posso modificar”.

Obrigado pela visita. Até o próximo post.
Agradeço os comentários postados pois são muito importantes para a melhoria do blog.


domingo, 7 de abril de 2013

Despertar da Consciência

Olá Amigos leitores,
Continuando na linha da última postagem hoje vou falar sobre “Consciência”, mais especificamente o “despertar de uma nova consciência”, o tema é muito interessante e espero que gostem e os ajudem.
O assunto "Despertar da Consciência", apesar de ser alvo de estudos de diversos cientistas, pesquisadores e filósofos, ainda é um tema desconhecido para a grande maioria das pessoas. Talvez ainda seja esta grande nuvem cinzenta, pois não havia interesse, em plena era industrial e tecnológica que as pessoas adquirissem conhecimento para tornarem-se fonte de suas vidas e questionar as doutrinações que vem sendo repassadas de geração em geração ao longo dos tempos.
A falta deste despertar da consciência nos influência a ponto de afirmar que “estamos dormindo acordados”, e porque afirmo isto? Afirmo porque simplesmente na grande maioria das vezes não questionamos as regras, crenças, dogmas ou tradições que como acima mencionei nos são passadas por nossos pais, que aprenderam assim de seus pais, que consecutivamente também aprenderam de seus pais e por ai vai.
No seu livro “Alma Imoral” Nilton Bonder fala sobre estas questões do que se trata a moral e a tradição e afirma que não se trai ou se é imoral criar algo novo de forma positiva e com um propósito maior que somente o pessoal (ego) mesmo que isso o leve a quebrar alguma tradição.
O despertar de uma nova consciência pode nos levar a um novo estágio como seres humanos e espirituais.
Despertar da Consciência significa:
- Estar mais atento a você e perceber que somos muito mais do que pensamos;
- Perceber que temos opções diferentes de escolhas que podem mudar significativamente como vemos o mundo e á nós mesmos e como podemos melhor interagir numa forma mais ampla com o mundo por completo;
- Descobrir porque você decidiu acreditar em tudo que acredita e aonde isso vai te levar analisando suas crenças;
- Aprender a manejar a sua atenção para seus objetivos e não deixar com que ela fique grudada como um chiclete nos medos e limitações que drenam a sua energia criadora.
- Aprender de forma prática como transcender sua mente para retomar o controle sobre ela e todas as emoções que você hoje acredita serem mais fortes do que você;
- Reconhecer que efeitos os julgamentos/opiniões que você tem das coisas, pessoas, idéias e experiências tem na sua percepção de perceber a vida como ela é;
- Reconhecer efetivamente que somos todos um e que tudo o que eu faço com você (idéias, intenções e ações) é o que faço comigo mesmo.
O segredo disto tudo é trocando em miúdos que estamos pouco atentos ao que estamos vivendo, pensando e escolhendo, fazemos isto de uma forma instantânea e isso nos leva a nos aprisionar em sentimentos negativos, em negações da realidade e frustrações.
Liberte-se sendo mais consciente, como diz o programa abra a mente e viva de forma livre, sendo mais você do que jamais foi.
O dependente químico/alcoolista, seus familiares e amigos também sofrem por falta desta forma de consciência, ficam presos nestes conceitos e pré-conceitos de liberdade de expressão, liberdade de escolha e etc.
O dependente químico/alcoolista sofre muito mais deste mal porque ele através da obsessão no uso fica incapacitado de ver o quanto está envolvido, suas perdas e as distorções de valores que estão sendo enraizadas em sua mente o que Eckart Tolle denominaria de “Corpo de Dor”, isto é, uma forma magnética de compartilhamento de dor, sofrimento e negatividade entre os membros deste corpo, é por isso que o normal para o dependente químico ao passar do tempo é reduzir sua convivência social familiar e buscar isto apenas com este grupo de pessoas (outros dependentes).
Como a recuperação não requer nada que já não tenha sido vivenciado pelo dependente esse “corpo de dor” deve ser substituído por um “corpo motivacional”, que são pessoas e ambientes de recuperação.
Para maior conhecimento sobre o assunto segue a sugestão de alguns livros: Alma Imoral de Nilton Bonder, O Despertar de Uma Nova Consciência e O Poder do Agora de Eckart Tolle.
Obs: Amigos leitores peço desculpas a todos que tentaram deixar seus comentários nas postagens anteriores e não conseguiram, houve um problema de programação que já foi solucionado então deixem seus comentários, pois eles são muito importantes para a melhoria do blog.
Boa Semana e até o próximo post.

domingo, 31 de março de 2013

Sou ou Estou?

Olá amigos leitores
Hoje vou falar um pouco de Programação Neuro-Linguística, espero que gostem.
A Programação Neuro-Linguística – PNL – mostra como as pessoas se escondem atrás de seus preconceitos para tentarem explicar ou justificar suas atitudes e/ou decisões impulsivas.
Sempre que uma pessoa afirma, confiantemente, "eu sou assim...", ela está simplesmente procurando uma desculpa para um comportamento que ela própria sabe não ser o melhor. Quando faltam argumentos e uma razão real, objetiva e emocionalmente integrada, alguns somente repetem o velho e "seguro" chavão: "eu sou assim..." e continuam a fazer as coisas da mesma forma. Isso é chamado de “crença no determinismo genético”. Quem diz isso se protege ou isenta de qualquer responsabilidade sobre si mesmo, jogando a "culpa" na genética ou em Deus, como se a própria pessoa não tivesse meios de alterar sua vida.
Existe um meio melhor.
Quem diz “eu sou assim...”, faz de conta que não está pensando, faz de conta que não possui liberdade de escolha, faz de conta que há algo programado dentro dela, e que não existem meios de alterar essa programação.
A grande maioria das pessoas que insistem em dizer “eu sou assim...”, têm medo ou receio de mudar e são complacentes com elas próprias, agindo como um avestruz, colocando a cabeça em um buraco no chão.
Devemos então buscar outra abordagem ou foco para modificar essa forma de crença e podemos fazer isso olhando do ponto de que nós nunca "somos" coisa alguma. Sempre estamos. Estamos jovens, estamos sadios, estamos acordados, estamos educados, estamos esforçados, estamos atentos, estamos felizes e assim por diante.
O que "está" pode ser mudado, mas o que "é" não pode.
Há uma enorme diferença entre "ser e estar". Quando dizemos que estamos sem dinheiro, estamos solitários, estamos tristes, estamos sem imaginação, estamos com problemas e etc. deixamos claro para os outros (e para nós mesmos) que esta é uma condição momentânea ou transitória e que estamos procurando fazer algo para mudar essa condição. Dizer: "eu estou acima do peso" é muito diferente de dizer "eu sou gordo".
Quando o dependente químico/alcoólatra afirma “eu sou um...” ele está assumindo e definindo uma condição de vida que independe de sua vontade. Sou dependente químico/alcoólatra: é uma condição imutável.
Mais quando afirmam estarem em busca de recuperação: definem uma condição transitória e que estão fazendo algo para modificar essa condição imutável.
Como foi falado acima sobre estarmos programados por dentro no caso da dependência devemos levar em consideração que muitos estudos apontam na doença um fator genético ou hereditário e também incurável (imutável) mas isso não define que se está condenado a viver de forma ativa a doença.
Em muitos casos o dependente químico e/ou alcoólatra se agarra a essa crença de que não pode fazer nada porque o problema não tem solução, ou melhor, a doença não tem cura, assim jogando a culpa sobre a doença, sobre essa crença genética e consecutivamente em Deus como foi antes falado.
Dependentes, familiares e amigos escutem o que vocês dizem para os outros e para sua própria mente. Se você disser algo começando com a frase "eu sou assim mesmo..." verifique imediatamente se não está somente tentando explicar o inexplicável para seu próprio coração. Não tente se enganar, porque, no fundo, você vai saber que é uma afirmação falsa.
Somente quem muda, sobrevive. Questione como William Shakespeare: "Ser ou Não Ser? Eis a questão".
A resposta pode valer sua vida.

Feliz Páscoa e boa semana a todos. Até o próximo post.
Deixem seus comentários. Para comentar aperte no link comentários ou nenhum comentário no final do post.


segunda-feira, 25 de março de 2013

Como identificar um dependente

Olá Meus Amigos
Primeiramente gostaria de agradecer a todos vocês que me ajudaram a divulgar o blog e por termos atingido mais de 1.000 visitas em 45 dias. Por isso acredito estar indo pelo caminho certo.
Reafirmo que a ajuda de vocês é muito importante para mim, não só para a divulgação ou compartilhamento e sim com suas ideias sobre assuntos, enquetes, depoimentos e até mesmo seus comentários sobre as postagens.
Estou muito feliz pelo sucesso do blog por isso vamos continuar em frente.
Novamente obrigado a todos.

ODQ – Um Novo Rumo

Ontem assistindo a uma reportagem sobre transtorno pensei em hoje dedicar um post mais voltado a família e interessados no assunto falando sobre como identificar um bebedor ou usuário de risco.
Sabemos muito bem que existem muitas pessoas que consomem álcool ou drogas mas isso não afeta sua vida diária, ou pelo menos é o que se pensa.
Um dependente químico ou alcoolista jamais conseguirá fazer um consumo recreativo ou social por causa da dependência.
Observamos que a grande maioria das pessoas restringe o consumo a situações específicas como festas, baladas, eventos sociais e o famoso happy hour.
O que não acontece ao dependente que na sua grande maioria faz um consumo diário de álcool/drogas.
Outra observação que acho pertinente fazer é que o alcoolismo é cultivado por anos de consumo de bebidas enquanto a dependência química pode requerer apenas a experimentação da droga para se tornar um problema maior.
Como podemos identificar então as pessoas que estão em risco de se tornarem dependentes?

No caso do álcool
- aumento de tolerância, isto é aumentar o consumo e demorar mais para sentir os efeitos do álcool;
- beber mais que o planejado;
- reduzir ou interromper atividades importantes por causa do álcool;
- falta de apetite;
- achar que a bebida é um remédio;
- crises de abstinência;
- Ansiedade;
- irritabilidade;
- esquecimento;
- confusão;
- aparência descuidada;
- tremores entre outros.
Faça a seguinte proposta de ficar 15 dias sem consumir álcool independente dos compromissos que venha a ter e observe os resultados, se não conseguir ficar sem beber por qualquer motivo ou situação o então negócio está bem difícil.

No caso das drogas
O comportamento é o principal aspecto a ser analisado pelos familiares que desconfiam que alguém da família esteja entrando para o mundo das drogas. Quando a dependência está surgindo, mudanças comportamentais costumam acontecer. Algumas delas são:
- mudanças comportamentais bruscas;
- Abandono de hábitos ou atividades rotineiras inclusive as familiares;
- Aumento de agressividade e irritabilidade;
- Dificuldades em concentrar-se em qualquer atividade;
- mentiras constantes;
- Falta de apetite (cocaína, crack) ou apetite exagerado (maconha);
- descuido com a aparência;
- desaparecimentos misteriosos de pertences da pessoa ou de outros, objetos do lar e dinheiro em qualquer quantia;
- no caso de drogas como cocaína e crack observar a perda brusca de peso sem motivação aparente;
- olhos vermelhos ou olheiras no caso da maconha ou arregalados no caso de cocaína e crack;
- coriza nasal constante (Cocaína);
- armazenamentos de cinzas de cigarro (crack);
Os sintomas e indícios são muitos e espero ter podido ajudar com essas informações, decidi falar sobre o assunto por ontem ter ouvido na reportagem o quanto é importante se diagnosticar um problema o quanto antes e assim poder o mais rápido possível entrar com medidas para que o problema não tome uma maior proporção.

Por motivos operacionais e facilitar a divulgação de novas postagens gostaria que as pessoas que leem ou lerem o blog e quiserem acompanhar as postagens me solicitassem adicionamento pelo google+ ulysses.sph5@gmail.com.

Obrigado a todos e até o próximo post.
Comentem e divulguem.

domingo, 17 de março de 2013

Mudanças: será mesmo preciso?

Olá para vocês...
Quero falar o que ando pensando ultimamente sobre a vida, seus sofrimentos e dificuldades.
Que difícil hein? A vida e seus sofrimentos!
Sabe vivo o dia a dia da dependência química e sempre acredito que alguma coisa vai mudar, mais dificilmente muda. É sempre a mesma coisa, destruição sobre destruição.
O dependente sofre, a família sofre todo mundo sofre.
Creio estar sofrendo também, sofro por não conseguir mudar as coisas, por muitas vezes não conseguir entender o sofrimento tanto meu quanto dos outros, sofro por não conseguir ajudar e por também ver constantemente que muitos não querem ajuda.
Muitos querem somente remendar suas vidas, fazer reformas externas que não vão resolver os problemas de estrutura. É como se fossemos um edifício com rachaduras por todos os lados e acharmos que apenas passar uma mão de tinta vai resolver, no final fica uma coisa tipo sepulcro caiado, bonito por fora e feio por dentro.
O engraçado é que na maioria das vezes reagimos assim mesmo, todos nós.
As mudanças tem que vir de dentro para fora e não ao contrário, porque senão se tornam apenas soluções temporárias para nós. Mudar o cabelo ou comprar uma roupa nova pode nos trazer durante um tempo um bem estar ou elevar a estima mais não vai resolver o problema com relação ao sentimento interno de desvalorização pessoal.
Comprar um super carro, uma mega casa ou apartamento, aparelhos eletrônicos de última geração também não vão mudar a verdade de si mesmo, vão apenas mascarar.
Tudo isso já foi feito antes, sempre deu o mesmo resultado, a única forma é fazermos essas mudanças.
Como fazê-las provavelmente você está se perguntando?
Uma autoanálise é o ponto de partida, olhar o que gosta e não gosta em sua vida, quando as tiver descoberto o ideal é amplificar o que gosta e entrar com medidas para reverter o que não gosta.
Existem diferentes formas de analisar esses pontos satisfatórios e insatisfatórios que podemos dividir em 2 categorias em internos e externos.
Os fatores internos estão ligados a forma como se vê e interage com você e os externos em como fatores externos a você interfere em você externa e internamente.
Os fatores internos negativos geralmente estão relacionados a: baixa estima, desmotivação, vergonha de algo em si mesmo, sentimentos de raiva, frustração ou medos e por ai vai, como por exemplo vergonha do corpo, medo da rejeição, medo do fracasso, raiva de tudo e de todos, não se achar capaz e etc.
Os fatores externos negativos que influenciam internamente na grande maioria estão relacionados a: disfunções familiares, profissionais, relacionamentos, materialismo muitas outras coisas, por exemplo não gostar de seu trabalho, de sua casa, da forma como é tratada pelos outros, preocupações excessivas com a aparência e etc.
Olhando agora os pontos separadamente e seus exemplos podemos perceber que eles se cruzam e/ou se fundem o tempo todo. O maior exemplo que posso dar deste cruzamento ou fusão é a frustração e raiva que tanto o dependente químico quanto nós sentimos (fator interno) por insistentemente tentarmos modificar ou controlar o outro (fator externo) e em minha experiencia vejo que este é um dos maiores sofrimentos pelo qual passamos muito constantemente na vida e no dia a dia. 
Os fatores internos e externos primeiramente são combatidos com aceitação deles, depois se deve entrar com maior valorização pessoal no caso dos internos e nos externos entrar com medidas que possam modificá-los externa e internamente.
Existe uma formula muito boa para os conflitos internos chamada terapia do espelho e funciona assim, fique de frente para um espelho e comece a falar com você sobre o que não gosta e também a dizer o que você gosta, diga frases do tipo “não gosto disto, não gosto daquilo, não vou mais me permitir isso ou aquilo, diga também que você é especial, capaz, lindo(a) e até mesmo “Eu te Amo”. Tente por algum tempo fazer isso e veja o resultado da elevação da autoestima.
Nos caso dos externos tome ações que mude o que está sentindo, algumas coisas podem ser resolvidas também através da terapia do espelho mais em alguns casos deve-se mudar alguma coisas de forma mais direta e real. Por exemplo, mudar de emprego para algo que goste de fazer, mudar um relacionamento que não está bem, parar de se preocupar insistentemente de forma materialista e por ai vai.
Temos que buscar gerar prazer em nós de forma assertiva, isto é, se valorizando como seres humanos  mudando fatores internos e externos em igual proporção.
Como falei no início temos o defeito de apenas modificar o externo e não dar atenção ao interno, o dependente químico principalmente tenta o tempo todo modificar o externo, e se esquece ou até mesmo abandona o interno. Os motivos são muitos para isso e já foram citados alguns aqui como a vergonha, culpa, medo, imaturidade e outros e todos eles levam o dependente a não vivenciar a realidade que tem que aceitar, como diz um slogam famoso “a dor é inevitável o sofrimento é opcional” e é disso que não só dependente tem medo mais todos nós, medo da dor.
A dor da culpa, do remorso, da frustração, do desalento, da solidão, do abandono, do fracasso, da mudança e etc.
Temos que lutar contra a nossa dor, enfrentá-la e vencê-la.
Para terminar desejo á todos vocês meus amigos muito sucesso nesse processo doloroso conhecido como “crescimento” que dói e dói muito deixo também esta fantástica frase para reflexão: “somente quando à dor de permanecermos o mesmo for maior que a da mudança, poderemos mudar”

Boa semana a todos e até o próximo post.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Experiências Pessoais

Olá meus amigos leitores hoje vou postar algo diferente do habitual, tenho em minha posse um depoimento de uma pessoa que me enviou um e-mail desejando compartilhar sua experiência no assunto e também uma entrevista feita com um adicto que se propôs também a relatar sua experiência com a dependência química e sua recuperação. Espero que gostem.

Depoimento da X


Olá Ulysses, meu nome é X e gostaria de compartilhar com você e os leitores do seu blog, minha experiência em relação ao tema (Adicto/co-dependência) resumidamente. Para falar a verdade quando me propus a escrever este depoimento achei que seria fácil, porém tive um pouco de dificuldade de encarar estas questões ou de “me encarar”, mas vamos lá...Nasci numa família bem grande, com vários irmãos e fomos criados entre tios, primos e sobrinhos... Tudo junto e misturado. Para nós a bebida era uma coisa normal, cresci vendo meu pai chegar bêbado e sempre agressivo com a gente e principalmente com a minha mãe! Então beber cedo foi normal para todos nós, eu mesma sempre me relacionei com pessoas que bebiam ou usavam drogas, pessoas não muito carinhosas ou problemáticas ou carentes de alguma forma porque eu só sabia lidar com estas pessoas e me sentia em casa! Quando conheci meu atual relacionamento, começamos a sair, beber e claro, sem muitas surpresas, logo veio a noticia de que ele usava drogas! Que pra mim não foi problema, porque eu achava que sabia lidar com pessoas problemática, neste período tivemos vários afastamentos devido á internações  e recaídas mas eu sempre achava que as coisas um dia iam melhorar, e com isso aceitava o uso de drogas na minha frente e até facilitava para ele o acesso, justamente por falta de conhecimento e por achar que estava o ajudando. Esta situação durou anos até que ele chegou ao fundo do poço dele e com sua própria força hoje esta sem usar há alguns anos! No começo da recuperação dele tive muita dificuldade de lidar com a falta da bebida, das loucuras, pois fazíamos tudo juntos, demorei até entender que também tenho um problema, o que me ajudou muito foi acompanha-lo nas reuniões do NA porque assim pude entender que o vício é uma doença, e fui procurar ajuda em grupo específico para mim o Amor Exigente e NAR-ANON, acredito que quando criamos a consciência e conhecimento do problema fica mais fácil de reagirmos. Tenho dois irmãos alcoólatras e uma irmã que está indo para o mesmo caminho, e se toda minha família criasse esta consciência seria mais fácil ajuda-los. O que percebo é que quanto mais cedo temos contato com drogas/álcool o caminho para eles se torna inevitável e isto é muito real. Obrigada pela ajuda e divulgação do problema que ainda é considerado tabu dentro das famílias.

X – 42 anos
São Paulo

Entrevista com B

ODQ – Bom gostaria que você iniciasse dizendo quem é você, como era sua vida e o que levou você a se interessar pela droga?
B – Meu nome é B, tenho 27 anos e eu sou um adicto em recuperação. Não faço uso de drogas há 3 anos e dois meses. Sou filho único de uma família que sempre considerei normal. Haviam brigas e confusões dentro de casa e eram constantes essas brigas quase sempre por constantemente morar algum parente do meu pai em casa. Essas pessoas bebiam em casa, mas nunca foi de forma abusiva, era mais em festas e não me lembro de algo significativo relacionado a isso. Existia muito abuso verbal, meus pais sempre se ofendiam muito nessas brigas, quebravam coisas em casa, mas nunca se agrediram ou a mim fisicamente. Essas brigas acabaram por me afastar cada vez mais dos dois, sentia raiva tanto da minha mãe quanto do meu pai que já é falecido, sempre havia a eminencia do divorcio, ouvia esse papo pelo menos uma vez ao mês e demorou muito tempo para que isso de fato acontecesse. Como desde cedo tinha muita dificuldade em me aceitar como era um menino tímido, bom aluno e comportado, o sobrinho favorito das minhas tias e aluno favorito das professoras nos primeiros anos na escola, nunca gostei disso, sempre quis ser como um dos meus primos, que aterrorizavam a família quando chegava, eu queria ser assim e com essas brigas constantes minhas insatisfações e decepções comecei a buscar meus heróis em outras figuras, que quase sempre eram vilões, seja na minha rua, na escola, em filmes e na musica, comecei a me interessar pelo errado, pelo mal a torcer para o bandido e não pelo mocinho. Acredito que tenha sido essas coisas que me levaram a ter interesse pela droga.Meu Primeiro contato com a droga foi “mágico”, consegui encontrar exatamente o que buscava, me tirava de minha realidade, alterava minha percepção e de quebra dava um tapa na cara de todos que me achavam “bonzinho”.No inicio eu usava em alguns eventos, para fazer determinadas coisas, depois passei a usar para fazer tudo e terminando parando de fazer tudo e fiquei usando, nunca tive nenhuma descriminação com nenhum tipo de droga.Comecei com o álcool, passei para a maconha, depois parti para a cocaína até chegar ao crack meu fundo de poço.

ODQ - Você passou por algum tipo de tratamento?
B – Passei por uma internação, não por decisão própria, mas por intervenção de minha mãe e minha namorada. Quando disse que estava usando (só eu achava que isso era um segredo), elas ficaram do meu lado e me ofereceram essa oportunidade, uma pessoa ligada a minha namorada, um adicto em recuperação foi até nós para apresentar algumas opções. Apesar de ter resistido e garantido a mim mesmo que não iria usar isso durou poucos dias e tive mesmo de ser internado.

ODQ - Como foi saber que era um adicto/alcoólatra?
B – A princípio é claro que neguei e disse a mim mesmo que era diferente daquelas pessoas que estavam internadas comigo, e que eu não era a pessoa que os terapeutas descreviam, eu na verdade tinha muito medo de viver algo que fosse diferente do que já conhecia. Como eu podia viver sem a coisa mais importante da minha vida? Absurda essa pergunta mais era essa a importância da droga na minha vida, e mais fazia tudo por “só mais uma”. Depois de alguns dias na instituição as coisas foram se acalmando dentro da minha cabeça e comecei a sentir certo alivio em saber que eu não era o mal caráter que imaginava e que muitos falavam que eu era, mas era portador de uma doença física, mental e emocional, a adicção.

ODQ - Você teve alguma recaída?
B – Aceitei apenas algumas coisas, eu não acreditava que álcool fosse um problema para mim, quando sai da internação, por indicação dos terapeutas procurei um grupo anônimo, eu me tornei membro de NA. Fui muito bem recebido e me disseram que eu era a pessoa mais importante na reunião, criei o habito de frequentar as reuniões que me ajudavam muito, mas ainda assim não engolia o papo de “Álcool é droga”, pra mim parecia muito radical e nunca tinha tido problemas com álcool, pelo menos era disso que tentei me convencer, poucos dias depois de sair da internação, na noite de natal, algumas pessoas estavam bebendo na porta da empresa onde trabalhava, eu sabia que deveria passa direto e evitar aquelas pessoas, mas não o fiz parei e acabei bebendo, nos dias seguintes senti muita vontade de usar, mas não usei, então me convenci de que deveria ficar algum tempo sem beber, minha ideia: uns seis meses”. Foi aí que em uma das reuniões de NA ouvi um companheiro partilhando sobre sua experiência, que era alcoólatra e que ficou anos sem beber, frequentando AA, mas passou a usar drogas, logo imaginei o que estava me esperando com esse pensamento de voltar a beber e desde aquele natal eu não uso álcool ou drogas.

ODQ - Como está agora limpo, em recuperação?
B – É uma fase totalmente nova da minha vida, hoje eu tenho a verdadeira liberdade de ser eu mesmo, de não precisar alterar meu humor com nenhuma substancia, para diminuir a dor ou aumentar minha euforia, hoje eu sinto coisas de verdade, meu sorriso e minha lagrima são verdadeiras e espontâneas. Já não passo madrugadas pela rua ou enfiado dentro do meu quarto, trancado e com medo de alguém entrar, esse era meu maior pesadelo, uma prisão que eu havia criado pra mim mesmo, dentro da minha cabeça. Hoje eu sou filho, namorado, profissional, aluno e adicto em recuperação. Experimento todas as coisas que um dia me oferece, sejam elas positivas ou negativas, estou me tornando uma pessoa muito mais feliz do que imaginei que conseguiria, hoje meu mundo não esta mais restrito aquelas ruas, becos e ao meu quarto trancado, hoje eu sou livre para praticar uma maneira totalmente nova de viver e isso é muito gratificante.

ODQ - Como vive seu dia a dia de recuperação?
B – Eu vivo um dia de cada vez e tento manter as coisas simples (o que é bem difícil pra um cara como eu). Frequento reuniões regularmente, fiz novos amigos dentro de NA, pessoas que como eu buscam esse estilo de vida, sem drogas ou álcool, pessoas em recuperação. A maioria das coisas que dão certo são as que disseram no inicio do meu processo de recuperação e que trago até hoje em minha vida, eu evito pessoas, lugares e hábitos da época em que usava, qualquer coisa que possa me levar de volta ao uso eu afasto e mantenho longe da minha vida. Tenho um padrinho, que é alguém com maior experiência que a minha e que me ajuda a trabalhar o programa de NA. Hoje eu sirvo a irmandade de Narcóticos Anônimos e levo a mensagem a outros adictos que ainda sofrem nos horrores da adicção, a mensagem é “Um adicto, qualquer adicto, pode parar de usar, perder o desejo de usar e encontrar uma nova forma de vida”. Todos os dias eu tento ser mais honesto, principalmente comigo mesmo, mais paciente com as pessoas com quem eu convivo ser menos egoísta e claro não uso haja o que houver! Esse programa de NA me deu uma nova visão do que é a vida e de como eu de fato quero vive-la e só por hoje vem dando certo, trabalho, namoro e melhorei meu relacionamento com minha família principalmente minha mãe. Hoje eu tenho vontade de viver e não de usar que para mim é a morte, mesmo que eu continue vivo.

ODQ - o que gostaria de falar sobre você ou qual mensagem gostaria de passar para as pessoas?
B – Que a recuperação é possível e que existem muitos meios de se chegar a ela, o que relatei foi o que deu certo pra mime vem funcionando para milhares de outras pessoas, centenas eu conheço pessoalmente e tenho certeza que falariam algo muito parecido com o que te disse. Nós realmente nos recuperamos e só por hoje eu não vou usar e vou ser muito feliz.

B – 27 anos
São Paulo

Considerações Finais

Observando tanto o relato de X como a entrevista de B fica claro que o ambiente familiar disfuncional colabora em muito para a vivência da experiência com a dependência química.
As famílias que tem por costume o consumo de álcool seja social ou não induzem á criança a esse mundo, pois a criança aprende observando os pais e os mais velhos e entende que ela beber vai fazer dela um "adulto".
Em ambientes de violência (verbal e/ou física) por motivação de álcool ou não a tendência dessa criança ou adolescente enxergar a vida através das ações de seus pais ou dos mais velhos é muito grande, passa a pensar que isso é assim mesmo e depois com passa a repetir esses padrões nas suas vidas pois a repetição é o forma primária de aprendizado do ser humano e se manifesta de forma instintiva nas pessoas.
Essa repetição fez com que X buscasse em seus relacionamentos pessoais, pessoas parecidas com a de seu lar por se tratar de algo que ela já conhecia e pensava saber lidar.
Para B não foi muito diferente com a visual desilusão com seus heróis (pai e mãe) passou a se interessar pelo ruim por achar que essa era sua melhor escolha e quanto mais se encontrou ali mais fácil era de suportar aquila realidade.

Agradeço imensamente a colaboração de X e B creio ter sido de muita importância para os leitores do blog. Obrigado por compartilhar suas vivências e desejo não só a vocês mas a todos muitas alegrias em suas jornadas pessoais.
Recuperação a todos!

Boa semana a todos e até o próximo post.

OBS: Por favor não deixe de comentar é muito importante seu retorno.



domingo, 3 de março de 2013

Aceitação é a solução

Aceitação é a solução para todos nós. Independente do problema que se vive aceitar que isso é real pode abrir uma porta para a solução do mesmo.
No nosso caso aceitar que estamos sofrendo por causa da dependência química ou alcoolismo próprio ou de alguém que amamos pode nos ajudar a abrir a porta da busca de ajuda para resolver o problema.
Qual é o problema então?
O problema é a negação, ela nos impede de ver as coisas como realmente são. Para a maioria dos seres humanos a negação é um ato quase que natural, passamos por diversas situações na vida que nos remetem a ela e ela nos protege da verdade que não queremos assumir, sentir ou encarar como, por exemplo, a morte de alguém, perceber e assumir erros, que o problema é nosso sim, que isso não podia ter acontecido e por ai vai.
Para o dependente químico e alcoolista a negação defende ele da responsabilidade de tomar uma atitude sobre seu uso compulsivo. Nega o problema mesmo que isso esteja claro e evidente para ele, assim ele se protege de se sentir um fracassado ou impotente.
Para os familiares e amigos essa negação os impede de ver que existe algo de errado com aquela pessoa amada, que isso não está acontecendo com você, na sua família ou mesmo que isso não está acontecendo ao mundo todo e que sua atenção ao assunto é de suma importância.
Existe um formato de proteção do EU que os seres humanos utilizam quase que instintivamente por diversos motivos ou situação, independentemente de qual seja ela, esta proteção alimenta essa negação e esta proteção é conhecida por barreiras de negação e é composta por 8 pontos que funcionam assim:


1 – Repreensão – protege do medo de ser repreendido pela família ou pela sociedade tanto por parte do dependente/alcoolista como para familiares e amigos.
2 – Minimização – o problema é minimizado pelo dependente e pela família.
3 – Justificativas – justificam o problema baseando-se em fatos pregressos ou cotidianos tanto de âmbito cognitivo, pessoal ou mesmo social.
4 – Mentiras – nega o problema, mente sobre o real tamanho do problema, defendem-se da verdade.
5 – Projeção – projetam nos outros ou em situações reais ou não do presente ou do passado o causador desses problemas.
6 – Racionalização – buscam explicações racionais para suas justificativas e mentiras.
7 – Apagamentos  – negam por se esquecerem dos fatos (mais por parte do dependente que sobre efeito principalmente de álcool reduzem sua capacidade de memória)
8 – Memória Eufórica – sempre se lembram dos momentos bons, da euforia, da festividade e outros.

A aceitação é a única solução para quebrar essas barreiras, ela demanda muita coragem e honestidade por parte do dependente/alcoolista e dos familiares e amigos.
Negar o fato que o problema existe só vai dar margem ao problema se agravar, lembre-se ou aprenda que a doença é progressiva e ela progride sempre para pior.
Esconder o problema não vai resolver nada, você vai continuar sofrendo sozinho(a) quando o melhor é compartilhar, tem um frase que deixa claro isso: “sofrimento compartilhado, sofrimento diminuído”, ou mesmo “a dor não pode ser evitada, o sofrimento sim”.
Se estiver com problemas, simplesmente aceite que você precisa de ajuda para resolvê-los, sejam eles quais forem. Como falei em uma de minhas postagens anteriores “Porque?” existem pessoas dispostas a ajudar e compartilhar suas experiência, não deixe de utilizar essa poderosa ferramenta.

Boa semana a todos até o próximo post.

Suas sugestões e comentários são muito importantes para a melhoria do Blog.
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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Salve-se quem puder, enquanto puder, se puder.

Olá!
Pessoal quero dizer que estou muito feliz com o apoio de vocês na divulgação do blog, muito obrigado a todos.
O negócio está complicado viu! Cada dia só piora. Só sofrimento. Pensando assim hoje desejo compartilhar com vocês alguns dados referentes ao atual momento que o país vive em relação à dependência química.
Estes dados foram divulgado no segundo semestre do ano passado pela UNIAD, mas acredito que é de suma importância para nós interessados no assunto.
Este estudo foi concluído em março de 2012

Maconha

Obs. Dados em escala de milhão de pessoas.

População adulta: o estudo apontou que 7% da população ou seja 8 milhões dos adultos já experimentaram a droga sendo  que destes 3 milhões fizeram uso no ultimo ano ou 3% da população adulta do país.
Adolescentes: 4% ou 600 mil adolescentes já experimentaram maconha sendo que 3% ou 470 mil são dependentes.
Das 8.600 mil de pessoas, 3.470 mil pessoas usaram no último ano, destas 1.500 mil pessoas utilizaram todos os dias.
62% experimentaram antes dos 18 anos.
Estes números sobre o Brasil vêm sendo questionados pela Organização das Nações Unidas pelo fato da apreensão dessa droga no país ser uma das maiores do mundo.
1/3 dos adultos já tentaram parar de usar maconha e não conseguiram.
1 a cada 10 homem adulto já experimentou maconha na vida.
40% dos consumidores adultos de maconha são dependentes.
Homens usam maconha 3x mais que mulheres.
1 a cada 10 adolescente consumidor de maconha é dependente.

75% da população brasileira é contra a legalização da maconha.

Cocaína e Crack

Obs. Dados em escala de milhão de pessoas.

Cerca de 6 milhões de brasileiros já experimentaram alguma apresentação da cocaína na vida (cheirada ou fumada).
Adultos: 5.600 mil já experimentaram sendo que 2.600 mil fizeram uso no último ano (12 meses).
Adolescentes: 442 mil já experimentaram sendo 244 mil no último ano.

1 - Cocaína cheirada:
Adultos: uso na vida 5.100 mil e nos últimos 12 meses 2.300 mil.
Adolescentes: uso na vida 316 mil e nos últimos 12 meses 226 mil.
Total: 2.526 mil.

2 – Crack/Oxi
Adultos: 1.800 mil na vida com 1 milhão nos últimos 12 meses.
Adolescentes: 150 mil na vida e 18 mil no último ano
2 milhões de pessoas usam maconha e cocaína de forma concomitante.
No último ano (12 meses) 70% dos usuários de cocaína usaram maconha e 41% dos usuários de maconha fizeram uso de cocaína.
27% usaram todos os dias nos últimos 12 meses.
14% dos usuários de cocaína já injetaram a droga uma vez na vida.
45% experimentaram antes dos 18 anos.
A Região Sudeste do país é a maior consumidora desta droga com 46% do total nacional esse percentual corresponde á 1.400 mil pessoas, 5.5% deste com uso na vida e 2.2% no último ano.
A região nordeste vêm em segundo lugar com 27% do total nacional 800 mil pessoas e em seguida a região Centro-Oeste com 10% do total ou 300 mil pessoas.
Hoje no país 22% da população conhecem alguém com problemas de uso de cocaína/crack.
Somente 30% pretender para nos próximos meses.
Apenas 1% procurou ajuda ou tratamento.

O Brasil representa 20% do consumo mundial de cocaína/crack.
É o principal mercado de crack no mundo.

Diante destes dados alarmantes questiono: onde isto vai para?
Como diria um personagem da TV: agora quem poderá nos ajudar?
Sinceramente não sei e é por isso que digo a todos vocês que precisamos nos ajudar, nós profissionais da saúde, membros de irmandades, familiares e amigos, não tem jeito por enquanto somos a frente principal nesta batalha.
Como diz o título da postagem: Salve-se quem puder, enquanto puder, se puder.
A melhor solução para isto até hoje é: FIQUE FORA DISTO. DROGAS ESTOU FORA!

Boa semana a todos e até o próximo post.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

De volta ao crack


Tenho contato com usuários de crack há 21 anos. Em entrevista à jornalista Cláudia Colllucci, publicada na Folha em 28 de Janeiro, expus o que penso sobre a internação dos usuários contumazes. 
Recebi alguns e-mails de pessoas que concordaram com as razões por mim expostas; outros, com críticas civilizadas e inteligentes, como as de meu colega da Folha Hélio Schwartsman, de quem sou leitor assíduo; outros, ainda, indignados, que só faltaram acusar minha progenitora de haver abraçado a mais antiga das profissões.
Ao defender a internação, expressei minha revolta contra os que politizam esse tema, com jargões dos anos 1960. Infelizmente, alguns profissionais que prestam assistência a usuários nas ruas sentiram-se ofendidos. A eles peço desculpas, não foi minha intenção generalizar, eu me referia aos que se manifestam em consonância com agendas pessoais distantes da realidade.
Quando exponho ideias que são contestadas por quem pensa de maneira radicalmente oposta, procuro fazer um esforço sincero para aceitar os argumentos contrários como se fossem meus, e tivesse que defendê-los num debate imaginário. Esse contorcionismo intelectual tem me ajudado a rever posições que julgava definitivas.
Neste caso, entretanto, há aspectos que me impedem de mudar de opinião, ainda que me acusem de autoritário e fascista, deformações alheias à minha personalidade.
Minha experiência com usuários de crack começou na antiga Casa de Detenção, em 1992, ano em que essa praga desalojou no presídio e nas ruas a moda de injetar cocaína na veia.
Perdi a conta de quantos óbitos atestei nos dez anos seguintes; meninos e homens maduros mortos por overdose ou assassinados a facadas por seus credores. Vi jovens fortes definharem até a caquexia, contrair tuberculose e morrer com o cachimbo ao lado. Fiz diagnóstico de infarto do miocárdio e derrame cerebral por overdose em rapazes de menos de 30 anos. Ladrões de renome entre seus pares suplicavam para ser trancados em cela forte, única saída para fugir da tentação.
Hoje, na penitenciária feminina, vejo meninas presas na cracolândia repetir o que jamais imaginei ouvir: "Graças a Deus vim presa. Se continuasse naquela vida, já teria morrido".
Internar à força alguém em pleno domínio das faculdades mentais é inaceitável, mesmo quando há risco de suicídio. Decidir conscientemente despedir-se da vida é direito tão inalienável quanto o de lutar para preservá-la.
A diferença, no caso do crack, é que não consigo me convencer de que o menino com o cobertorzinho nas costas, pele e osso, sem forças sequer para roubar, reúna condições psíquicas para tomar outra decisão que não seja a de ir atrás da próxima pedra.
Não falo de usuários ocasionais, passíveis de abordagem ambulatorial, mas de pessoas gravemente enfermas que correm risco de morrer de pneumonia, tuberculose, overdose ou nas mãos dos desafetos.
Deixá-los nas ruas à espera de que resolvam procurar ajuda por livre e espontânea vontade ou sejam convencidos por profissionais competentes e bem-intencionados pode dar resultados concretos para alguns casos, mas exige um tempo de sobrevivência que a maioria dos doentes mais graves não dispõe.
Você poderá dizer que essa estratégia é cara e de eficácia duvidosa. Pode ser, mas para os casos mais dramáticos não vejo outra.
Mesmo que ao sair da clínica o usuário recuse o acompanhamento ambulatorial e volte para a cracolândia, terá valido a pena. Estará com mais saúde, terá recuperado parte do peso perdido e sido tratado das doenças que o debilitavam.
Se for mulher grávida, terá acesso aos exames pré-natais e chance de permanecer abstinente até o fim da gravidez, possibilidade remota na rua.
É evidente que o impacto será muito menor se, ao receber alta, o ex-usuário for abandonado à própria sorte. Haverá necessidade de recursos financeiros para a criação de ambulatórios e formação de pessoal especializado. Também custará caro, mas a sociedade está diante de uma tragédia humana sem precedentes.
Todos os países que destinaram áreas públicas para o consumo de drogas ilícitas desistiram da experiência porque houve aumento da mortalidade. Nossas cracolândias por acaso não são espaços públicos destinados ao livre consumo?

Drauzio Varella é médico cancerologista. Por 20 anos dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer. Foi um dos pioneiros no tratamento da Aids no Brasil e do trabalho em presídios, ao qual se dedica ainda hoje. É autor do livro "Estação Carandiru" (Companhia das Letras). Escreve aos sábados, a cada duas semanas, na versão impressa de "Ilustrada".